quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Um cego de duas faculdades

Galera, eu sou a Ana Carolina, tenho 9 anos, estudo a 3ª série na escola Mirian Moreira e sou atendida em uma sala especial da escola O Pequeno Príncipe. Deixa que eu explico isso. Eu nasci com deficiência auditiva e por isso não ouço nada. Como não ouço, não aprendi a falar como todo mundo fala, mas eu me comunico através da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). Sou muito feliz com a minha vida e estou muito satisfeita por participar do Repórter Criança. Eu recebo apoio da minha família e das minhas professoras Maria Ilene e Rosimar.
Eu entrevistei um rapaz que também tem uma deficiência, é o Nacélio Sousa, de 25 anos. Ele não enxerga, mas olhem só, ele passou em dois vestibulares e estuda em duas faculdades. É mole ou que mais? A nossa conversa foi na Universidade Estadual do Pará, onde o Nacélio estuda Ciências Naturais. Ele me recebeu muito bem.
Para que a gente pudesse conversar, foi preciso que a professora Rosimar me ajudasse. Eu fazia as perguntas para ela na linguagem de sinais e ela traduzia para ele. Ele respondia para Rosimar e ela me dizia a resposta dele. Pode até parecer difícil, mas foi bem legal. Eu descobri que o Nacélio mora com sua mãe e com um irmão e que é ela quem faz a comida deles. Mas eu descobri também que o Nacélio, mesmo sendo cego faz muitas coisas em casa, como cozinhar, arrumar a casa e até mesmo lavar roupas.
Eu perguntei para o meu entrevistado se tinha sido difícil passar em dois vestibulares e ele me disse que se sentiu igual a todo mundo, mas o que deixava ele triste quando estava se preparando para o vestibular é que o material dele, que é todo escrito em Braile (um monte de bolinhas marcadas no papel e que são lidas com as pontas dos dedos) quase sempre chegava atrasado e ele perdia tempo.
Eu quis saber como era a rotina dele e Nacélio me explicou que todos os dias de manhã alguém da família dele leva ele da sua casa, que fica na Folha 33, até a parada de ônibus e que ele vai sozinho para a UEPA. Ele volta para almoçar em casa, ajudar no que pode e de noite vai estudar de novo, só que ele vai para a Universidade Federal do Pará, onde estuda no curso de Ciências Sociais.
Como eu quero ser um soldado quando crescer, perguntei o que ele queria ser e ele me disse que quer ser Sociólogo e Químico.
Eu quis saber do Nacélio o que era mais difícil em ser cego, e ele me disse que em Marabá não tem acessibilidade, que é quando as calçadas não são da mesma altura, rampas de acesso e pisos diferenciados. Ele me falou também que muitos motoristas estacionam nas calçadas e que isso atrapalha quando ele ou outras pessoas que têm deficiência precisam andar por aí.
Eu perguntei ainda como ele fazia para encontrar as coisas na casa dele, e ele me respondeu que todas as coisas ficam sempre no mesmo local, então ele já aprendeu onde elas ficam e fica fácil, fácil para encontrar. Nós resolvemos dar um passeio pela universidade e Nacélio me levou para conhecer a sua turma e mesmo não ouvindo nada, eu percebi que eles estavam fazendo barulho, talvez porque ficaram sabendo que eu era a repórter que estava entrevistando o Nacélio.
Foi uma manhã bem legal, gostei do Nacélio, do passeio e principalmente de ser a repórter, mas ainda estou querendo ser soldado!

Ana Carolina
Especial para o CT

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